Como Ribeirão Preto está se preparando para se tornar um polo de inovação e tecnologia até o final da década

Como Ribeirão Preto está se preparando para se tornar um polo de inovação e tecnologia até o final da década

O fortalecimento de startups, parcerias com instituições de ensino e a expansão de parques tecnológicos são algumas das estratégias para posicionar o município como um polo de inovação até 2030

Com a aproximação de 2030, Ribeirão Preto se encontra em um momento decisivo para consolidar seu papel como polo tecnológico e de inovação. Este ano é emblemático por marcar o prazo para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidades (ONU). A Agenda 2030 da ONU é um plano global para o desenvolvimento sustentável, composto por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), visando erradicar a pobreza, proteger o meio ambiente e garantir prosperidade para todos até 2030.

 

O cumprimento dos objetivos passa por repensar o papel das cidades e dos entes privados, adotando modelos mais eficientes de gestão, incentivando a inovação e almejando o bem estar social. O fortalecimento de startups, parcerias com universidades e expansão de parques tecnológicos são algumas das estratégias adotadas para posicionar Ribeirão Preto como um hub de inovação até o final da década. Atualmente, a região metropolitana de Ribeirão Preto abriga 328 startups, segundo mapeamento realizado pelo Supera Parque de Inovação e Tecnologia.

 

Como forma de posicionar o poder público como um agente ativo nessa transformação, foi criada em 2021 a Secretaria Municipal de Inovação e Desenvolvimento de Ribeirão Preto. A pasta tem a missão de impulsionar o crescimento econômico e tecnológico do município, promovendo políticas de desburocratização, incentivo ao empreendedorismo e conexão entre governo, empresas e universidades. Com a nova gestão 2025-2028, Suely Vilela, ex-reitora da Universidade de São Paulo (USP), assumiu o comando da pasta.

 

Suely define as parcerias firmadas pela secretaria como essenciais para a estruturação de um ambiente de inovação e empreendedorismo. "Um dos pilares dessa atuação é o apoio ao Supera Parque, uma parceria entre a prefeitura e a USP, que tem sido fundamental na transformação de pesquisa acadêmica em soluções de mercado. Além disso, organizamos o Inova Ribeirão, evento que reúne diversas entidades para fomentar conhecimento e oportunidades para empreendedores e empresas", destaca.  Ribeirão Preto conta com a Lei Municipal de Inovação desde 2012, incentivando tecnologia e empreendedorismo. O município oferece incubação e suporte a startups por meio do Start Up Ribeirão, que promove eventos e conexões com investidores e especialistas. Além disso, o Supera Parque oferece acesso a fundos, parcerias internacionais e isenção de IPTU para empresas de base tecnológica. Essas ações fortalecem o ecossistema de inovação da cidade, atraindo investimentos e impulsionando o desenvolvimento sustentável.

 


Parcerias são essenciais, afirma Suely Vilela, secretária de Desenvolvimento e Inovação

 

Eduardo Cicconi, gerente de novos negócios do Supera Parque, destaca que o local tem se consolidado como um polo de referência em inovação, especialmente nas áreas de biotecnologia, saúde, agronegócio e tecnologia da informação. “Em 2024, recebemos o prêmio ANPROTEC, como um dos três melhores parques tecnológicos do Brasil. Atualmente já são 78 empresas residentes, com mais de 500 postos de trabalho. Também possui o mais completo laboratório de teste de equipamentos eletromédicos do país, acreditado pelo INMETRO em mais de 90 normas de qualidade”, comenta.

 

O Supera Parque está em expansão para atender às novas demandas tecnológicas, com investimentos como a construção do Health to Business Center (H2B Center), um centro especializado em healthtech e biotecnologia, previsto para 2026. Além disso, o parque está ampliando sua área com novos lotes para empresas de base tecnológica e inaugurou o Container Park, um complexo empresarial moderno com infraestrutura para startups, espaços de convivência, salas de treinamento, cafeteria e restaurante. Também estão sendo ampliados laboratórios e centros de pesquisa para fomentar a inovação e o desenvolvimento tecnológico.

 



Eduardo Cicconi destaca projeto de expansão do Supera Parque

 

Outro importante ator no cenário regional é o Dabi Business Park, um hub de startups e inovação. O crescimento do DBP nos últimos três anos tem beneficiado setores como tecnologia e inovação, atraindo startups e centros de pesquisa, além de fortalecer o comércio e serviços com o aumento da circulação de profissionais. A educação também se destaca, com parcerias acadêmicas para qualificação profissional, incluindo uma universidade focada no agronegócio instalada no parque.

 

Para 2030, espera-se a consolidação do DBP como hub de negócios global, expansão dos setores de tecnologia e serviços, adoção de soluções sustentáveis e aumento da geração de empregos qualificados, impulsionando o desenvolvimento econômico e a competitividade da cidade. “Ações que consigam conectar empresas, universidades, e o setor público, são parte do que o Dabi promove constantemente. Dentro de nosso Hub de inovação (Área 51) temos todos esses atores atuando em conjunto. Empresas consolidadas, startups, instituições de ensino e o setor público, como a Secretaria de Desenvolvimento e Inovação de Ribeirão, que vem participando de inúmeras atividades focadas em integração do Público Privado, com objetivo de trazer dinamismo junto ao setor público, compreendendo as necessidades do setor privado e contribuindo para auxiliar esse desenvolvimento econômico e tecnológico”, explica Eduardo Brondi, gerente geral do Dabi Business Park.

 



"Promovemos conexão entre empresas, universidades e o setor público", pontua Eduardo Brondi

 

BONS EXEMPLOS

 

Ribeirão Preto tem apresentado nos últimos anos bons exemplos de empresas que foram impulsionadas por políticas públicas de fomento à inovação, assim como "incubadas" por parques de inovação. São empresas que atendem a alguns Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Onu, como trabalho decente e crescimento econômico, saúde e bem-estar, consumo e produção responsáveis e educação de qualidade.

 

Sediada no Supera Parque, a Decoy desenvolve biopesticidas à base de fungos para o controle sustentável de pragas na saúde animal e no agronegócio. Suas principais áreas de atuação são biotecnologia, sustentabilidade e inovação agrícola. “A sustentabilidade no agronegócio será cada vez mais central, devido ao esgotamento das soluções tradicionais, como o uso intensivo de pesticidas, e a crescente demanda do consumidor por produtos com menor impacto ambiental. Para viabilizar essa mudança, é crucial a inovação, com o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis que agreguem valor a toda a cadeia produtiva, o que a Decoy busca facilitar”, detalha Lucas von Zuben, co-fundador e CEO da Decoy. Para Zuben, Ribeirão Preto oferece um ecossistema favorável para startups, especialmente nas áreas de agronegócio e saúde, com acesso a talentos, parcerias estratégicas e infraestrutura como o Supera Parque.

 

Decoy promove inovações sustentáveis no agro, destaca Lucas von Zuben

 

Por falar na área da saúde, o Supera Parque também é a casa de um bom exemplo nesse segmento. A InSitu é uma startup da área de saúde que utiliza terapia celular para desenvolver produtos inovadores, como biocurativos 3D com células-tronco para tratamento de feridas e queimaduras, biogel para feridas menos complexas e cicatrizes, e bioenxerto 3D para recessão gengival.  Carolina Caliari Oliveira, fundadora e sócia na In Situ, conta que durante seu mestrado e doutorado, estudou a aplicação de células-tronco no tratamento de queimaduras, e a In Situ representou a oportunidade de transformar essa pesquisa em uma solução para pacientes que sofrem com feridas crônicas e queimaduras. "Essa transição só foi possível graças ao apoio do Programa de Pesquisa Inovativa em Pequena Empresa, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que não apenas financiou a pesquisa, mas também ofereceu capacitação empreendedora. Um dos grandes desafios foi justamente pensar na ciência como um negócio viável”, explica.

 

A pesquisadora frisa que a obtenção de recursos para projetos iniciais na área de biotecnologia é, sem dúvida, um grande desafio. “No Brasil, há poucos fundos de investimento nesse setor. No entanto, a consolidação de um ecossistema robusto em biotecnologia aplicada à saúde, com atores importantes como universidades, incubadoras e aceleradoras — como a Supera, a Eretz.bio (aceleradora de startups do Hospital Albert Einstein) e o Sebrae —, tem contribuído para a mudança desse cenário”, finaliza Carolina.

 


Adriana Manfiolli e Carolina Caliari Oliveira destacam a importância do incentivo à ciência

 

O Dabi Business Park também acolhe exemplos positivos. A Treesales é uma consultora de transformação digital para empresas. A startup auxilia empresas na transformação digital, garantindo que as soluções tecnológicas adotadas sejam implementadas de forma eficiente e aderente aos processos de negócios. Seus principais setores de atuação incluem agronegócio, varejo, serviços e cosméticos. Para Luciano Fernandes, CEO da Treesales, atualmente, poucas empresas não estão passando por algum nível de transformação digital. “O que varia de organização para organização é o nível de maturidade nesse processo, que pode ir de 1.0 até 4.0 – ou até mesmo a preparação para recepcionar a Transformação Digital 5.0, que ainda está por vir”, detalha.

 

Para Fernandes, as empresas de Ribeirão Preto podem se preparar para a transformação digital colocando as pessoas no centro do processo e garantindo uma gestão eficiente dos dados. A transformação digital deve ser estruturada de forma a englobar os três drives tecnológicos: digital, material e cultural. Para um processo bem-sucedido, é essencial diagnosticar a maturidade digital da empresa, identificar entropias, planejar a jornada de transformação por ondas, capacitar a equipe e desenvolver programas de cogestão e governança estratégica. Setores como o agrícola, varejo, serviços e cosméticos estão mais avançados nesse processo. A Treesales tem ajudado a acelerar essa evolução com inovação real e segura.

 

Transformação digital precisa ser trilhada pelas empresas, afirma Luciano Fernandes

 

RETENÇÃO DE PROFISSIONAIS

 

Para Ricardo Donegá, coordenador do curso de Administração da Universidade de Ribeirão Preto (Unarp), os desafios para Ribeirão Preto se consolidar como um polo de inovação passam pelo aprimoramento de sua infraestrutura tecnológica e a redução das desigualdades no acesso digital. “A cidade precisa atrair e reter uma massa crítica qualificada para sustentar operações criativas, que usem tecnologia eficientemente. Também é fundamental fortalecer as conexões entre academia, indústria e governo, criando um ambiente colaborativo que favoreça inovações adaptáveis às mudanças tecnológicas globais, com foco na criação de valor e relevância, ao invés de processos burocráticos”, avalia. Uma das formas eficazes de se reter essa massa profissional qualificada são as parcerias com instituições de ensino.

 

Segundo Donegá, a academia tem um papel crucial no desenvolvimento tecnológico de Ribeirão Preto, fomentando inovação e reforçando a capacitação profissional na região. “A Unaerp se destaca por suas parcerias público-privadas, que viabilizam projetos de pesquisa e extensão em tecnologia e saúde. Entre suas iniciativas, estão o Núcleo de Inovação e Tecnologia (NIT), onde estudantes e professores desenvolvem soluções tecnológicas baseadas em pesquisa avançada, e o curso de Administração, que incentiva programas de empreendedorismo, criando um ecossistema favorável à inovação contínua”, finaliza o coordenador.

 

“A cidade precisa atrair e reter massa crítica qualificada”, alerta Ricardo Donegá

 

CRESCIMENTO POPULACIONAL

Ribeirão Preto deverá ultrapassar os 730 mil habitantes até 2030, depois disso, por conta do envelhecimento da população, o crescimento deve estagnar e começar a cair a partir de 2050. As projeções são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística a Fundação Seade do Governo do Estado de São Paulo e Seade. A diminuição da população não se restringe a Ribeirão Preto. Em 2041, o Brasil deverá atingir seu número máximo de habitantes, estimado em 220,43 milhões de pessoas, porém, após 2042, o país começará a encolher.

 

QUEM É QUEM

 

Dabi Business Park

 

O Dabi Business Park é um centro empresarial que integra pessoas, ideias e inovação. O DABI apoia empresas de tecnologia de ponta, oferecendo infraestrutura adequada e suporte em capacitação, treinamento e recrutamento. Com diversas parcerias, o parque facilita o acesso a ferramentas estratégicas, promovendo a qualificação e retenção de talentos em sua comunidade. “Apesar do pouco tempo em operação, faremos três anos, o DBP conseguiu, através de um grande esforço com ações, atividades e conexões, se consolidar no cenário de inovação e empreendedorismo de Ribeirão e região”, comemora Eduardo Brondi, gerente geral do Dabi Business Park. Durante esses três anos, foram mais de 550 eventos, com diversos conteúdos, todos gratuitos para toda comunidade.

 

O tema da "fuga de cérebros" – a perda de mão de obra qualificada para outras regiões e até países –, também é tratado com atenção pela Secretaria de Desenvolvimento e Inovação. Segundo Suely Vilela, Ribeirão Preto tem se preparando para formar e reter talentos qualificados em tecnologia e inovação por meio de instituições de ensino de excelência, como a USP e universidades privadas, além de programas municipais de capacitação, como os oferecidos pela Funtec.         “Uma parceria com o Instituto Federal de São Paulo (IFSP) criará o Instituto Federal de Ciência, Tecnologia e Inovação, ampliando a oferta de cursos na área. A cidade também investe em hubs de inovação, como o Supera Parque e o Dabi Business Park, e promove eventos como hackathons e programas de aceleração. A qualidade de vida e infraestrutura competitiva em relação a grandes centros também atraem profissionais”, destaca.

 

Supera Parque

 

O Supera Parque de Inovação e Tecnologia desempenha um papel estratégico no fortalecimento do ecossistema de inovação e empreendedorismo em Ribeirão Preto. Criado em parceria entre a USP, a Prefeitura e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, o parque impulsiona startups, empresas de base tecnológica e projetos de pesquisa aplicada. Suas principais frentes de atuação incluem a incubação de startups, oferecendo suporte e infraestrutura, além da promoção de eventos, treinamentos e mentorias.

 

O Supera também fomenta parcerias estratégicas entre universidades, empresas e investidores, incentivando a inovação aberta e a transferência de tecnologia, além de conectar startups a fundos de investimento para acelerar seu crescimento.


Foto: Lucas Nunes - Revide

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