
Postos de Ribeirão Preto apresentam variação de até 20% nos preços do etanol e da gasolina
Litro do etanol pode variar até 75 centavos; economista explica possíveis causas dessa variação que não é comum na história da cidade
Há três tipos de motoristas quando o assunto é abastecer o veículo: os que procuram promoção, os que têm um posto de estimação e os que só param por medo de ficarem sem combustível. A conclusão é do gerente de uma das quatro unidades de uma rede de postos de Ribeirão Preto, Valdinei Costa. “Muita gente procura preço, mas o atendimento e a sensação de segurança em relação à qualidade do combustível conta muito”, explica.
Variações acima da casa de 20% no preço do etanol e 15%, na gasolina intrigam motoristas da cidade. No dia 17 de março, um posto na Avenida Treze de Maio, na zona Leste, vendia o litro de etanol por R$ 4,13. No mesmo dia, a mesma quantidade do mesmo combustível em um posto na Avenida João Fiúsa, zona Sul, custava R$ 4,98. “Na zona Sul, conhecida por concentrar bairros de maior poder aquisitivo, os preços tendem a ser mais elevados. Postos dessa região frequentemente embutem nos custos fatores como aluguéis mais altos e um posicionamento comercial voltado para consumidores menos sensíveis a variações de preço. Já na zona Norte, onde o poder de compra é geralmente menor, os valores costumam ser mais competitivos, acompanhando a realidade socioeconômica local. Essa divisão cria uma espécie de “mapa de preços” que reflete as desigualdades da cidade”, explica o professor de Economia José Rita Moreira.
Há dez anos, Ministério Público e Polícia Civil investigaram denúncias de cartel nos postos de Ribeirão Preto. O inquérito foi arquivado sem conclusão. “A gente percebe uma variação sim. O problema é o aumento que sempre vem”, explica o motorista de aplicativo Guilherme Câmara. Hoje, o principal alvo da reclamação dos motoristas ouvidos pela Revide é o poder público. “Seja Federal ou Estadual, o governo parece sempre agir para aumentar os impostos”, acredita Guilherme.
Os fatores econômicos e políticos que afetam os preços dos combustíveis em Ribeirão Preto vão além das fronteiras municipais. A cidade, situada em uma das maiores regiões de cana-de- -açúcar do país, sente diretamente os reflexos da safra e da oferta de etanol. “Quando a produção é alta, como no início da safra, os preços tendem a cair – um movimento que, neste momento, pode explicar os R$ 4,15 encontrados em alguns postos. Por outro lado, a gasolina, que contém 27% de etanol anidro em sua composição, sofre influência tanto das oscilações do petróleo no mercado internacional quanto das políticas de reajuste da Petrobras, que repassam custos às distribuidoras”, afirma José Rita Moreira. Uma pesquisa realizada pelo Procon-SP entre 18 e 20 de dezembro de 2024 revelou variações de até 21,47% nos preços na cidade, uma das maiores discrepâncias registradas no estado.
A política de Preço de Paridade de Importação (PPI), implementada pela Petrobras em 2016, vincula os preços internos dos derivados de petróleo às cotações internacionais e à taxa de câmbio. Embora essa estratégia tenha contribuído para a recuperação financeira da estatal, também a tornou suscetível às flutuações do mercado global, resultando em oscilações frequentes nos preços ao consumidor. Em janeiro de 2025, a Petrobras reajustou os preços do diesel, refletindo a necessidade de alinhar os valores internos às condições do mercado internacional. O professor de Economia explica que "as variações nos preços dos combustíveis em Ribeirão Preto estão diretamente relacionadas às políticas nacionais de precificação e às condições do mercado internacional". Ele acrescentou que "a dependência do Brasil de combustíveis fósseis e a volatilidade do câmbio são fatores que amplificam essas oscilações". A política de precificação da Petrobras, alinhada ao mercado internacional, e as variações cambiais desempenham papéis cruciais na determinação dos preços ao consumidor
Foto: Ibraim Leão