População de Ribeirão Preto deverá encolher a partir de 2040, estima Seade

População de Ribeirão Preto deverá encolher a partir de 2040, estima Seade

Com 704 mil habitantes, taxa de crescimento deve desacelerar em Ribeirão Preto nas próximas décadas devido ao envelhecimento da população e baixa natalidade

Ribeirão Preto atingiu a marca de 704.874 habitantes, segundo nova projeção da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade). São 335 mil homens (47,5%) e 369 mil mulheres (52,5%). De acordo com a Fundação, houve um crescimento de 0,8% de habitantes em relação aos dados do Censo 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

O levantamento apresenta as estimativas da população residente nos municípios paulistas até 2023, com base na pesquisa do IBGE e as Estatísticas do Registro Civil.  Em relação à faixa etária, 16,6% da população tem de 0 a 14 anos; 70,9% tem entre 15 e 64 anos; e 12,5% tenha mais de 65 anos.

 

Os números apontam para um envelhecimento da população. Em 2000 eram 122 mil pessoas com até 14 anos e 35 mil com mais de 65 anos. Em 2023 a diferença diminuiu, são 117 mil crianças e adolescentes e 88 mil pessoas com 65 anos ou mais.

 

ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO

 

O envelhecimento da população é um fenômeno global, que vem sendo debatido e monitorado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A população mundial está envelhecendo mais rapidamente do que no passado, mas na América Latina essa transição demográfica está ocorrendo de forma ainda mais acelerada.

 

Mais de 8% da população tinha 65 anos ou mais em 2020 e estima-se que essa porcentagem dobre até 2050 e exceda 30% até o final do século. O tema é tão relevante que a organização nomeou a década (2021-2030) como a "Década do Envelhecimento Saudável". A campanha é uma oportunidade para reunir governos, sociedade civil, agências internacionais, profissionais, academia, mídia e setor privado para dez anos de ações concertadas e colaborativas para melhorar a vida das pessoas idosas, suas famílias e as comunidades onde que vivem.

 

O médico e geriatra Paulo Fernandes Formighieri explica que no Brasil o envelhecimento da população é um movimento que ocorre há décadas e de maneira progressiva.

 

"Há um ganho constante [de idade da população] que se mantém com o tempo. Sobretudo, tem sido ainda mais intenso na população muito idosa, acima dos 80 anos", ressalta Formighieri. "O aumento da longevidade ocorre dado às melhorias nas condições de vida de maneira global. Desde o acesso ao saneamento básico, mudanças no estilo de vida, melhores condições de trabalho, alimentação mais balanceada, redução dos conflitos armados de grandes proporções e mais acesso a recursos e tratamentos", acrescenta o geriatra.

 

Do ponto de vista econômico, o envelhecimento da população acarreta momentos distintos. Segundo o economista Luciano Nakabashi, da Faculdade de Economia e Administração de Ribeirão Preto (FEA-RP/USP), em um primeiro momento, o envelhecimento da população acarreta em um aumento da população economicamente ativa.

 

"É um efeito positivo sobre o PIB. Um período de ganho de produção baseado nesse aumento da população ativa é o que chamamos de 'bônus demográfico'. Contudo, o Brasil se aproxima do final desse bônus", alerta o economista. O fim do bônus demográfico resultaria em efeitos negativos sobre o PIB acarretados pela inversão na pirâmide etária.

 

Outro problema apontado pelo economista é o previdenciário. Segundo o governo federal, no acumulado entre janeiro e maio deste ano, a Previdência Social (RGPS) acumula um déficit de R$ 153,3 bilhões. "Como temos, no geral, um sistema de repartição, quem trabalha paga a aposentadoria de quem está aposentado. São necessários cerca de oito trabalhadores para pagar por um aposentado”, destaca Nakabashi.

 

A transição demográfica acarreta, e acordo com o especialista, em dois problemas que tornam iminente a insustentabilidade do sistema previdenciário: aos poucos a população economicamente ativa diminuirá até a relação trabalhadores-aposentados se tornar ainda mais desigual; e com o aumento da longevidade, há o aumento do tempo de recebimento das aposentadorias e benefícios.

 

O economista adverte que o remédio para essa situação se torna mais amargo a cada ano.  "Aumentar a contribuição, aumentar a idade de aposentadoria, reduzir benefícios, reduzir privilégios e exceções para algumas classes. Devemos tomar alguma dessas decisões ou a combinação delas para que o sistema consiga fechar a conta", explica.

 

 

PROJEÇÕES E ENCOLHIMENTO

 

Em agosto de 2021, antes da divulgação oficial dos dados registrados pelo Censo 2022,o IBGE divulgou uma estimativa de 720 mil habitantes em Ribeirão Preto. A projeção tomava como base o Censo demográfico de 2010 que contabilizou 604 mil habitantes na cidade. O Censo é realizado porta a porta, em todo o país, com agentes contratados pelo governo federal. Já as projeções tomam como base a população divulgada pelo último Censo e estimativas de natalidade e falecimento da população.

 

Com base em uma estimativa numérica de projeções do IBGE e Seade, Ribeirão Preto deverá atingir cerca 730 mil habitantes até 2030, depois disso, por conta do envelhecimento da população, o crescimento deve estagnar e começar a cair a partir de 2050. O fenômeno, todavia, não está restrito a Ribeirão Preto. A população brasileira começará a diminuir a partir de 2042, segundo projeções divulgadas na última semana pelo IBGE. Em 2041, o Brasil deverá atingir seu número máximo de habitantes, estimado em 220,43 milhões de pessoas.

 

De acordo com o IBGE, a previsão é de que a taxa de aumento populacional, que em 2024 deverá ser de 0,4%, diminua gradativamente até 2041. A partir de 2042, o índice de queda da população também deve cair de forma gradual e se aproximar de 0,7% ao ano em 2070, quando o total de habitantes do país deverá alcançar 199,23 milhões.

 

“No início dos anos 2000, a gente tinha uma taxa de crescimento acima de 1%. Estamos nos aproximando de zero. Em se tratando de Brasil, isso se dá principalmente pelo saldo de nascimentos e mortes. Nesse ponto [em 2042], o número de óbitos superaria os nascimentos”, afirmou o pesquisador do IBGE Marcio Minamiguchi.

 

Três estados já devem começar a perder população ainda nesta década: Alagoas e Rio Grande do Sul (em 2027) e Rio de Janeiro (em 2028). Dois estados ainda devem manter crescimento populacional até a década de 2060: Roraima e Santa Catarina (até 2063). A população de Mato Grosso deverá continuar crescendo pelo menos até 2070 (o IBGE não projeta além desta data).

 

De acordo com os pesquisadores, a queda de população tem relação com a redução da taxa de fecundidade da mulher brasileira. Em 2023, a taxa chegou a 1,57 filho por mulher, bem abaixo da taxa considerada adequada para a reposição populacional (2,1 filhos por mulher). Em 2000, o Brasil superava essa taxa, com 2,32 filhos por mulher, o que indicava a perspectiva de crescimento populacional para as décadas seguintes. Cinco anos depois, a taxa já havia caído para 1,95 filho, passando para 1,75 em 2010, 1,82 em 2015 e 1,66 em 2020.

 


Fotos: Luan Porto/ Infográfico: Lorena Melo

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