O legado de Candido Portinari
A casa onde Portinari cresceu foi tombada pelo Iphan em 1968

O legado de Candido Portinari

Criação do Museu Casa de Portinari, além de preservar o legado do artista, impulsiona o turismo, a arte e a cultura em Brodowski

Inaugurado em 14 de março de 1970, após uma junção de esforços da Família Portinari, do poder público e da comunidade brodosquiana, o Museu Casa de Portinari tornou-se a maior referência cultural e turística de Brodowski. A residência familiar do festejado pintor brasileiro, no antigo Largo de Santo Antônio — atual Praça Portinari —, em Brodowski, sempre teve vocação para museu. Quando vivo, o próprio pintor tinha o hábito de convidar seus amigos artistas, poetas e escritores para conhecerem a casa da família. Nomes como Mário de Andrade, Nicolás Guillén e René d’Harnoncour (vice-presidente do MoMa, de Nova Iorque) estiveram entre os recepcionados pelos familiares de Portinari, que lhes solicitavam que deixassem suas presenças registradas em um livro, datado de 31 de julho de 1954, onde à página de abertura se lê: “Nós te saudamos e somos honrados com a tua visita”.


A consolidação deste sonho para a cidade e para a família veio após a morte do artista, em 1962, e se deu principalmente em virtude da presença dos vários murais deixados por Portinari e seus amigos nas paredes da residência — com destaque para uma capela que o artista pintou para sua avó paterna, nos jardins da propriedade. Além da obra em si, a casa abriga uma coleção de móveis e utensílios domésticos da família, assim como objetos pessoais e de trabalho do artista. A casa foi tombada pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), em 9 de dezembro de 1968. No ano seguinte, o imóvel foi desapropriado e adquirido pelo Governo do Estado de São Paulo, e em 22 de janeiro de 1970, foi tombado também pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo). Era desejo de dona Domingas, mãe do artista, ver a casa ser transformada em museu, e ela alcançou esse objetivo ao cortar a fita de inauguração da instituição, em 1970, ao lado do governador do Estado, Abreu Sodré, e do então prefeito municipal, Mário Fabbri.

 

ELO COM A CIDADE

Em 2023, o Museu Casa de Portinari recebeu 37.470 visitantes durante o ano, registrando uma média de mais de 3 mil visitas por mês. Segundo o gerente do museu, Matheus Maia, um número ainda menor do que o registrado no período pré-pandêmico, mas com tendência a crescer. Para a cidade, a existência do museu propicia o entendimento da obra do artista. “É impossível entender o caráter humanista do pintor e sua obra sem passar por sua infância sofrida e cheia de sonhos e esperanças em sua casa, em Brodowski. A Casa de Portinari representa o elo que o pintor tinha com sua terra natal, tão vastamente trabalhado e permeado em toda sua produção plástica, seja por meio da série ‘Meninos de Brodowski’, ou das obras com temáticas infantis, da vida simples no campo, do trabalho ou mesmo das impactantes obras da série ‘Retirantes’”, enfatiza. Para o gerente, Brodowski e Portinari são entidades que se misturam. “Um não existe sem o outro e ambos reforçam a existência mútua”, diz. Nesse sentido, segundo Maia, o Museu cumpre o papel crucial de preservar e divulgar o legado e a conexão entre o maior pintor brasileiro de todos os tempos e sua terra natal. “A cidade, para além do orgulho de abrigar um museu com tamanha missão, de certo modo, gira em torno da existência da instituição, respirando e transpirando arte por toda parte. Além de atrair turistas que beneficiam o setor de serviços e comércio, o museu também desenvolve uma ampla gama de atividades e eventos culturais que são destinados à população, atingindo, naturalmente, as cidades circunvizinhas”, justifica. Em 2023, o número de beneficiados por ações extramuros do museu foi de 46.883, média de quase 4 mil pessoas por mês.



ARTISTA RETRATAVA O BRASIL

Candido Portinari nasceu no dia 29 de dezembro de 1903, na fazenda de café Santa Rosa, em Brodowski. Filho de imigrantes italianos de origem humilde, recebeu apenas a instrução primária. Desde criança manifestou vocação artística e aos 15 anos foi para o Rio de Janeiro, estudar na Escola Nacional de Belas Artes. Em 1928, conquistou o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro da Exposição Geral de Belas-Artes, de tradição acadêmica. Retornado em 1931, passou a retratar em suas telas o povo brasileiro, fundindo a ciência antiga da pintura a uma personalidade experimentalista antiacadêmica moderna. Em 1935, recebeu sua segunda menção honrosa, na exposição internacional do Carnegie Institute de Pittsburgh, Estados Unidos, com uma tela de grandes proporções, intitulada “Café”, que retrata uma cena da colheita típica de sua região de origem. Executou também três grandes painéis para o pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova York, e o Museu de Arte Moderna de Nova York adquiriu sua tela “O Morro”. Em 1955, recebeu a medalha de ouro concedida pelo Internacional Fine-Arts Council de Nova York como o melhor pintor do ano. Companheiro de poetas, escritores, jornalistas e diplomatas, Portinari participou da elite intelectual brasileira e foi o único artista nacional a participar da exposição “50 Anos de Arte Moderna”, no Palais des Beaux Arts, em Bruxelas (Bélgica), em 1958. Como convidado de honra, expôs 39 obras em sala especial na I Bienal de Artes Plásticas da Cidade do México, em 1958. Candido Portinari morreu no dia 6 de fevereiro de 1962, vítima de intoxicação pelas tintas que utilizava, quando preparava uma grande exposição de cerca de 200 obras a convite da Prefeitura de Milão (Itália)

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