
Desculpe as expectativas
Desculpe as expectativas
(Luiz Cláudio Jubilato)
Longos anos. Carro: paro onde quero. Ônibus: para onde quer. Eu, que dormi semideus, acordei um mortal. Atravessando retas, morros e cânions, fiquei pensando sobre o que fiz da minha vida, o que poderia ter feito e o que ainda posso fazer.
Vivo procurando o sentido dos nomes por culpa de Machado e das palavras, por culpa do Rosa. O absurdo da existência humana deixei para Sartre e Camus. Sou guerreiro coxo, como a Eugênia (significa nascimento perfeito) das Memórias de Brás Cubas, que só escreveu morto. Ou o homem de ferro a 180 por hora? Para mim, sobraram essas mal traçadas linhas, por culpa desse dedo indicador, desse corretor que insiste em corrigir o que eu lhe avisei que não quero corrigir. É a primeira vez na história que minto, sem querer ou erro querendo acertar.
Sempre achei que o pior verbo da língua portuguesa é "desculpe-me": corajoso, se dito na cara; ou medroso, se dito no fim de tudo que parece início de alguma coisa.
Há falta de senso em quem disse, porque sabe do "impossível" e a hipocrisia de quem pronuncia o verbo no presente do indicativo, com dois zeros no fim da ação: "Perdoo". Ninguém nunca desculpa. O perdoador mói, remói, constrói, desconstrói, destrói, duvida, desconfia, imagina, mas nunca "perdoa". Fala que sim, mas certas palavras são como perdigotos. Só Deus perdoa. Será? Empresários não creem nisso. Têm uma frase lapidar quando se trata do tema: "A única diferença entre Deus e o mercado é que Deus perdoa". Até amanhã. Irônico: É a exploração do homem pelo homem no templo dos endividados.
Melhor pensar antes de fazer: Pedir perdão é pior do que mendigar. Mendicância de perdão é exigir que o outro abdique do que não tem para oferecer. O instinto de autopreservação é pior que prato de comida: Empanturrar por algumas horas, até a fome virar buraco. A memória é implacável como foice. A vida não anda sobre os próprios passos.
Nesses longos trevos, túneis e viadutos da vida, descobri que, na verdade, a pior palavra do dicionário é "expectativa" devido à infinita quantidade de sujeitos e “coisas” implicadas.
Expectativa presentes que o futuro enterrará, expectativas do passado que o presente enterrou, suas expectativas em relação a você mesmo, expectativas dos outros em relação a você, expectativas de viver o hoje como se não houvesse o amanhã, expectativas de corresponder ao que querem de você, expetativas... expectativas... expectativas....
Expectativas que se confirmam, não são expectativas, são realizações.
Há erros gramaticais nesse texto, excesso de adjetivos, gerúndios e "quês"? Desculpem-me, não sou um escritor. E não trago expectativas.