
Conversa produtiva com uma aluna
Um diálogo produtivo com uma jovem inconformada. Eh! Ainda existem jovens inconformadas, "curiosas" (talvez a segunda seja a palavra correta).
- Professor, por que você ainda estuda tanto, segundo seu ex-alunos (um já perguntou, pelo que eu sei, qual é o sistema operacional)?
- Resposta: kkk, eu me lembro dessa história. Essa é boa. Eu me lembro desse aluno. Porque eu quero ter a melhor versão de mim mesmo. Não estudo para os outros, estudo pórque eu gosto. Sou curioso. Estudo para saber.
- Ele me disse que você dorme muito pouco, porque fala que dormir é perda de tempo, há muita coisa para aprender. Eu nunca vou fazer isso, não tenho paciência. Se eu não dormir 8h por dia, não sou ninguém.
- Não é uma questão de paciência, é uma questão de desafio, de curiosidade, de hábito. Faço isso desde que me entendo por gente. Uma pessoa que trabalhou comigo, disse-me uma frase que guardo como se fosse um mantra: "Você é interessante Luíz. Você pode ser qualquer coisa, mas nunca é óbvio".
- É verdade que você estuda todo dia? Passa a madrugada lendo?
- Resposta: É verdade. Por que uma coisa leva a outra. Um livro propõe mais de um desafio (linguagem, alusão a outras obras, essência da história, a composição dos personagens). Filosofia, sociologia, história da arte, antropologia viraram prazer. Estudo-as porque há 35 anos, quando cheguei a Ribeirão, as escolas não ministravam essas as disciplinas para sofisticar a argumentação. Estudo sempre exige mais de uma leitura. A madrugada sem o barulho da cidade e o telefone mudo, o silêncio das pessoas são convites ao prazer.
- Acho que não nasci para isso.
- Resposta: Há muito tempo, assisti a um curta chamado "A gente é para o que nasce" e depois "Nós que aqui estamos por vós esperamos". Dá para "sacar" muita coisa. Mais do que filmes são provocações, tanto quanto "Ilha das flores". Usei as estruturas desses curtas, para criar metodologias de estudo e de escrita. Você vai aceitar essas provocações e outras tantas relativas à sua profissão. Você vai querer ser a melhor, então será provocada, desafiada, "Pode ser qualquer, menos óbvia".
Reproduzo esse diálogo, para colocar em discussão um fato que mata o sistema de ensino brasileiro: "estudar para saber" e não para fazer prova". Não escrevi para parecer arrogante ou "intelecutal" (não sou) ou me autoelogiar seria patético) e sim parabenizar essa aluna que quer ir além do vestibular. Ela já estuda muito, só não sabe disso. A curiosidade é a primeira forma de estudar, suspeitar é a segunda, inconformidade é a terceira.
Não desejei sorte a ela. Ela não precisa. Só precisa se descobrir, coisa que a escola não ajuda. Há aulas em que o professor lembra a ela quantos diais faltam para a prova do ENEM.
Algumas questões: Durma. O sono ensina também.Estude, levando em consideração o tempo que suporta. Eu não sirvo de molde para ninguém. Cada pessoa tem seu tempo.