
CARO FAZEDOR DE PROVAS... NADA É PRA SEMPRE
(Prof.: LUIZ CLÁUDIO JUBILATO)
Tudo mudou para permanecer igual: como sempre foi e como sempre está sendo.
Quando eu tinha 18 anos, os professores davam "esporro" a cada aula. Parecia que combinavam naquela vestusta sala de cultivadores do passado:: "Vocês estão no ano do vestibular e nem se deram conta, Vocês são um bando de alienados que não leem nem bula de remédio. A vem aí neste ano. Voces vão levar um ferro danado e sem vaselina". Era um ""pé no saco". Todo dia, toda aula, aquele disco arranhado. Havia um prfessor "cara de pau", sádico, que se divertia escrevendo quantos dias ainda faltavam para a gente subir no patíbulo e encarar a forca. Era uma lavagem (me remete ao alimento para porcos) cerebral.
Transformavam o tal vestibular em um monstrengo com a boca aberta e os dentes afiados: tinha pesadelos. Era como quando minha mãa queria nos assustar: "cuidado com o veio atrás da porta". Nunca... nunca.... tive coragem de ver o veio. Mas, ele era o meu vestibular, lá estava ele me assombrando.
Muitos amigos "piraram" Deixaram de ser humanos para serem vestibulandos. Eram as vítimas das gozações dos "vagais" e vigaristas. Apelidamos os amigos CDF (cu de ferro) de ursos: brancos, peludos e gordos. Anos depois, Gabo me ensinou que era uma referência a Simon Bolivar, que andava dias no lombo de um cavalo. Era o que eu não era: determinado.
Professores, coordenadores, diretores, minha mãe, a alma da minha avozinha querida diziam que tinha que escolher minha profissão, afinal a exerceria para o resto da vida. Pensei: "O resto da vida é muito tempo". Vida de vestibulando é resto: Ir à aula, Assistir à aula. Voltar da aula. Até sonhar com a aula. A vida é aula. O vestibular é o veio, agora concorrendo com o bicho-papão.
Já naquela época, alguns amigos parece que nasceram com o estetoscópio pendurado no pescoço: "Vou fazer medicina, penso nisso desde a barriga da minha mãe". Um deles tentou entrar na UFJF. De tanto decorar a apostila, tornou-se um dos melhores professores de biologia que conheço. Nunca exerceu a medicina, apesar de ter se formado. Outro se formou. Recebeu o diploma jogou no colo do pai e lhe disse: "Esse diploma é seu". Juntou as trouxas e foi fazer artes cênicas.
Nunca pensei sobre qual profissão gostaria de exercer. Em algum momento, pensei em ser diretor de teatro. Depois de um conto publicado pelo Diário Mercantil de JF, o editor era um amigo que viria a ser um grande escritor - Luís Fernando Rufato. Acendeuram a luz finalmente: "Serei escritor". Logo depois, a certeza se escondeu atrás da porta, então, lendo a Folha de São Paulo, me vi jornalista. Sempre tive uma imensa dificuldade de obedecer a ordens, nunca daria certo.
Li muito: até fotovela Ouvia rock pauleira. Tomava todas. Os garotos da rua jogavam bola. Eu lia. Meu pai e meu irmão achavam que eu era doido ou veado ou os dois. Para desespero deles, virei o objeto de piada da rua. A vítima da fofoca. E eu, cheio de dúvidas, ouvia rock'n Roll. Aí a coisa piorou, só andava com discos debaixo do braço. Levava alomoço para um motorista, engrachava sapatos A grana ecomizada virou disco. Tomava todas. Com aqueles olhos vermelhos era certeza: "Veado e maconheiro". Como mãe é mãe e vice-versa, a minha dizia que eu era o ser mais inteligente sobre a face da terra. Eu, um adolescente cheio de dúvidas, lia e ouvia rock'roll. Eu era pura nitroglicerina: todo mundo sabia que eu explodiria, só não sabiam quando. Nem eu.
Resolvi que seria jornalista sim e se dane. Na fila para a inscrição, conversei com alguns amigos. Um deles me disse: "O seu negócio não é escrever? Enfie a cara no português? Então, por que não faz letras? Veio o estalo e, mais uma vez, troquei, para desespero da minha família, que queria um membro "dotô" médico ou padre ou milico. Já disse que não sei obedecer a pessoas. Ah! Esqueci, também detesto sangue, vômito e gente bêbada.
Fui parar no curso de letras. Na primeira aula, deu vontade de sair correndo: "O que diabos eu estava fazendo ali? Eu ia dar aulas? Nem pensar. Jamais..."Descobri que minha mãe estava certa, tinha razão de me acertar, a quase 100 metros, aquele maldito chinelo: "Ô mira, sô!!!". Era teimoso, como uma mula. Insisti. E não é que comecei a gostar daquilo. No entanto, vivia grudado na "galera" do jornalismo. Era um jornalista meia-boca.
Em 1978, as escolhas dos filhos eram motivadas pelo desejo das famílias de alcançarem "status social" . Já viu isso, paciente leitor desesperado, doido para ver esse texto acabar. O negócio era ser médico, advogado ou engenheiro (Ou ser médico, engenheiro aadvogado era o negócio). O resto era "curso espera marido". Nunca tive a menor vontade de ter um marido, ao contrário, era apaixonado por uma menina, que era apaixonada pelo cara do carro vermelho, que era apaixonado pela irmã dela. Agora, vivia eu a escrever poemas sofridos e ah! tomando todas.
A famosa professora Leila Barbosa me deu uma chance e comecei a dar aulas aos 18 anos no Colégio dos Jesuítas. Em uma semana, já dava aula nos melhores cursos da cidade. Comecei por onde onde os outros terminam. Não parei mais. Virou cachaça. Comecei dando uma aula de um livro que nunca li, também nunca entendi porque deram aquilo para os alunos. A professora Regina fez de tudo para eu não entrar na sala dos professores. Ela me disse que eu jamais sairia dali. Nunca mais saí.,.
Hoje o leque de opções é tão diversificado, que as profissões mais rentáveis, que darão status, ainda não foram inventadas. É um "crime" pedir a um jovem que escolha fará pelo "resto da vida" aos 18 anos. Falta-lhe maturidade. Conheço uma imensidão de jovens que "chutou o pau da barraca" e foi para o mercado de trabalho, sem um diploma universitário. E estão muito bem obrigado.
Pergunte a uma pessoa de 40 anos ou mais, se ela, caro leitor investigativo, algum dia, imaginou que carregaria o próprio telefone, um computador, uma tevê, um rádio e um banco em um aparelhinho viciante? Pergunte se ela imaginava que existiria uma tal internet? E quantas profissões surgiriam a partir dela?
Tenho 65 anos. Envelheço, mas meus alunos têm todo ano 18 anos, por isso acompanho gerações e gerações, com as mesmas angústias, medos e expectativas .
Tenho eternos alunos que trazem seus filhos para estudar comigo. Isso me diz que transformei alguém que me transformou. Vou-lhe contar um segredo, paciente leitor, que chegou até aqui: “Não sei o que quero fazer" é a opção mais concorrida do vestibular. Não ria. É sério. A maioria dos professores, que dão aula para vestibulandos sobre determinada matéria, são formados em outras profissões que nada têm a ver com a que escolheram.
Em uma profissão tão desvalorizada, tão saturada quanto a minha, sinto-me um vencedor. Vou-lhe contar outro segredo, assustado, leitor: "Perdi uma namorada, porque a mãe e o pai dela me consideravam um "professorzinho" sem eira, nem beira.
Sou sim um professor. Não sou médico, nem padre, nem doutor, como queria a minhã mãe. Em um país em que quase ninguém quer estudar, sinto-me um vencedor. Em um primeiro momento, fiquei indignado. Depois, descobri que fizeram por mim algo fantástico: Como já disse, adoro desafios e provocações. Criei, há 35 anos, o Criar Redação, uma referência em Língua Portuguesa para pais, alunos, escolas, professores e veículos de comunicação. Durante 20 anos, fui mantenedor do Liceu Van Gogh (Ituverva), até que um AVC me pôs contra a parede, mas não me parou. Atravessei a parede.
Não saberia fazer outra coisa a não ser ensinar e provocar. Alguns alunos me amam; outros me odeiam, mas, de alguma forma, nunca ficaram indiferentes. Nunca fui óbvio.
Meu jovem aluno, não se desespere, o vestibular não é um monstro. Desafie-se. Você só vai atravessar a ponte, ver o mundo por outro prisma e ver você do outro lado. Vai se encontrar. APRENDERÁ QUE NADA É PARA SEMPRE.