Faltam parâmetros pedagógicos ao debate sobre a IA na Educação

Faltam parâmetros pedagógicos ao debate sobre a IA na Educação

 Rodrigo Abrantes da Silva

 

Imagem em preto e branco de garrafa de bebida

Descrição gerada automaticamente com confiança média

 

Megafone1 com preenchimento sólidoPolêmica à vista: Qual discussão devemos fazer antes de definirmos o que pode e o que não pode em relação à presença da tecnologia digital nas escolas?

 

Inteligência artificial estrutura de tópicosVamos pensar em termos de Inteligência Artificial Generativa: A escola que deixa a IA correr de forma aleatória perde a chance de trabalhar habilidades hoje essenciais aos alunos, tornando-se ainda mais obsoleta.

 

Pessoa com ideia estrutura de tópicosPois a IA, independentemente da nossa escolha, estará sempre presente na vida dos alunos e professores. Por exemplo, a IA está nos principais buscadores de internet e nos aplicativos de edição de texto, áudio e imagem.

 

Pessoa com ideia estrutura de tópicosNa verdade, a IA já atua em processos de letramento digital. Isto impõe às instituições e aos educadores o desafio de definirem os parâmetros pedagógicos desta mediação, trazendo benefícios a todos.

 

 

O debate em torno da presença digital na educação é complexo. Ele envolve inúmeras variáveis que precisam ser analisadas no detalhe, comparadas umas às outras, observadas em termos dos seus dos potenciais e problemas, de forma que possamos encontrar soluções que de fato mobilizem professores e alunos em direção a uma aprendizagem inovadora, crítica, inclusiva e diversa. 

A IA Generativa já faz parte da estrutura educacional, queiramos ou não. Ela está presente nas mais diferentes aplicações das tecnologias digitais em nosso cotidiano. Os alunos estão expostos a diversos formatos de texto eletrônico desde a 1ª infância, em que a escrita verbal está justaposta a imagens e sons, seja na televisão ou no contato interativo com a tela de celulares, tablets e computadores. E a experiência vai muito além da exposição a estes formatos de comunicação. 

O texto digital também gera novos letramentos e práticas sociais que envolvem novas identidades, maneiras de ser e de agir. Eventos de letramentos se disseminam via chatbots, que respondem a partir de dados textuais.

Assim, a escola que deixa a IA correr de maneira aleatória, sem desenvolver propostas pedagógicas que contemplem a aplicação e os potenciais da ferramenta, acaba perdendo a oportunidade de trabalhar habilidades hoje essenciais aos alunos e pode se tornar ainda mais obsoleta. Já a escola que assume que precisa entender esses processos tecnológicos, consegue criar janelas de aprendizagem relevantes para os estudantes. 

 

Processo trabalhoso

 

É claro que isto não é simples. Os professores precisam de orientação sobre como lidar com essas tecnologias em sala de aula, como orientar os alunos e conduzir discussões sobre o tema. Mais importante ainda é que eles disponham de um ambiente seguro para conseguirem experimentar a IA e refletir sobre isso. 

O trabalho com computadores envolve processos cognitivos que o letramento convencional, proveniente do método fônico, não dá conta de desenvolver. As pessoas alfabetizadas no modo convencional não apresentam, a priori, as aptidões e as disposições necessárias para participarem como agentes desses novos processos, assim elas demandam o suporte da instituição. 

Os professores que cursaram suas licenciaturas no modo convencional tendem a reproduzir, no ambiente digital, a mentalidade, a identidade e a epistemologia que desenvolveram ao longo de sua trajetória. Por isso, vemos práticas convencionais muito arraigadas nas soluções apresentadas pelas plataformas e aplicativos, onde modelos do passado são reproduzidos no ambiente digital sob o rótulo de modernização. Porém, existe um mundo novo e, as escolas que estiverem cientes destes desafios criarão estratégias para que o corpo docente possa experimentar e elaborar práticas pedagógicas apropriadas aos seus contextos. 

 

Sobre as aplicações da IAG no ambiente escolar

 

A prática mais usual das pessoas diante da IAG tem sido a de criarem prompts – input de sequências de orientações em linguagem natural no chatbot – buscando gerar determinados resultados; no caso das escolas, planos de aula, automatização de apresentações e imagens. Muitos veem nisso um ganho valioso no tempo de trabalho, entretanto, por mais interessante que seja, esta dinâmica não muda o processo pedagógico. Este somente poderá evoluir quando passarmos a ensinar os alunos nesse novo tipo de letramento, combinando as habilidades do humano escritor às de uma máquina capaz de escrever. 

Para chegarmos a isto, é fundamental compreendermos e experimentarmos as janelas de aprendizagem (oportunidades) propiciadas pelo ambiente digital, incrementadas com as funcionalidades da IAG. A partir daí poderemos desenvolver novas práticas, pois o que importa não é a tecnologia em si, mas o que ocorre em seu entorno e como ela muda processos de pensamento, possibilidades de criação e de interação. É nisso que temos que nos concentrar para entender o que podemos fazer com as capacidades atuais.  

 

Exemplo:

 

Um exemplo relevante é dado pelo processo de escrita, na perspectiva dos letramentos. 

As máquinas têm sido aplicadas na automatização das práticas convencionais, onde os alunos são desafiados a produzirem um texto individual conforme os gêneros e técnicas de redação pré-determinados pelo professor, que irá avaliá-los e aplicar a nota final, seguindo a orientação pedagógica da escola. 

A coordenação poderia adotar aqui outra perspectiva, permitindo que, em vez disso, os professores orientassem os alunos a:

  • pesquisarem as abordagens possíveis em relação a determinado tema (que pode ser proposto em conjunto com a sala); 
  • debaterem o assunto com os colegas em suas mais diferentes leituras e implicações;
  • elaborarem pontos de reflexão, e; 
  • criarem formas de expressão onde consigam expor o pensamento que cada um elaborou em torno do tema.

Neste caso, os gêneros e as técnicas podem emergir numa discussão posterior, quando todos tiverem exposto, revisado e finalizado a sua produção. 

A tecnologia veio para justamente facilitar fluxos de colaboração, interatividade e inovação, em linguagens variadas de expressão de sentidos.      

 

Avaliação & Revisão entre pares

 

A avaliação representa outro campo com vastas possibilidades de aplicação da IAG, assim como o uso pedagógico de revisão entre pares, mas falaremos sobre estes aspectos nos próximos artigos.  

O que procurei alertar aqui é sobre a necessidade de os modelos de ensino-aprendizagem trazerem atividades nas quais os alunos possam atuar com as suas atuais capacidades, o que deve incluir o uso de computadores, tablets e celulares. 

Esses equipamentos são hoje próteses cognitivas que mantemos próximas ao nosso corpo e com elas acessamos informações e conhecimentos para aplicar a situações do mundo real. Não vejo por que privá-los dessa experiência, sem a qual novos padrões de regulação do comportamento humano-máquina não serão alcançados e crianças, jovens e adolescentes arriscarão se tornar disfuncionais adultos em uma sociedade digital. 

(Edição: Rosali Figueiredo)

 

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