O Maio Furta-Cor chegou

O Maio Furta-Cor chegou

Campanha em Ribeirão Preto amplia conscientização sobre saúde mental materna

Psicóloga Perinatal e Parental, empreendedora e mãe da Maya, de 3 anos, Paula Roberta Garcia Naldi é representante oficial da campanha Maio Furta-Cor MFC em Ribeirão Preto. Assumiu a regência das representantes, junto com Jana de Ross, consultora de amamentação, que está à frente da organização da campanha, e este ano entrou para somar também Lucia Acosta, psicóloga e consultora de amamentação. “Liguei-me à campanha desde seu primeiro ano, durante a pandemia, através de ação conjunta online, pelo Instituto Aripe, com a dança mãe e bebê. Minha filha tinha seis meses e sendo profissional ligada a assistência materno infantil, foi impossível não fazer parte”, conta Paula.

 

O que é o Maio Furta-Cor e qual a sua importância?

 

Somos uma campanha jovem, sem fins lucrativos, financiada com recursos próprios, nascida na porta de uma creche pelas mãos de duas mães, democrática e suprapartidária. A campanha é uma iniciativa brasileira, criada em 2020, com o propósito de sensibilizar a população e atrair a atenção das autoridades para o cenário da saúde mental materna no Brasil e no mundo, por meio da realização de ações de conscientização ao longo de todo o mês de maio, época em que celebramos nacionalmente o mês das mães. Em quase quatro anos, já aprovamos mais de 90 projetos de lei e estamos presentes em quatro continentes e mais de 12 países. O Maio Furta-Cor entende que enquanto não ocorrerem mudanças na compreensão da saúde mental materna e não houver um compromisso ético e político na construção de novos modelos de assistência, tanto as famílias quanto a sociedade continuarão sofrendo as consequências nas gerações futuras.


Como a campanha vem se desenrolando em Ribeirão Preto?

 

O primeiro ano (2020), devido à pandemia, foi totalmente online. Em 2021, algumas cidades estenderam ao presencial. No início, as ações foram entre profissionais do meio. Em 2022, a psicóloga Gabriela Burssato encabeçou a representação em nosso município ampliando as ações a diversas áreas. Em 2023, eu e a Jana assumimos a representação dando continuidade ao trabalho multidisciplinar. Tivemos mais de 40 eventos em clinicas, universidades, hospitais, parques e fizemos parcerias importantes com o Sebrae, o comércio e o CRAS. Ano passado, aprovamos a inclusão da campanha no calendário do município, apoiamos a representação da campanha em Sertãozinho e Araraquara e firmamos parceria com o Lugar de Escuta, um trabalho com rodas de conversa com homens. A programação completa deste ano está no Instagram @ondafurtacor.rp 

 

O que dá para destacar na programação deste ano?

 

Cada ação proposta tem seu espaço essencial para a sensibilização em todos os âmbitos da sociedade, por isso, incentivamos todas as áreas a olharem como a causa da saúde mental materna as atravessa. Este ano buscamos abrir eixos para essa sensibilização, por exemplo, no mundo corporativo e convidamos profissionais que estão à frente de vivencias como maternidade LGBTQIA+, parentalidade afrocentrada, escuta voltada para homens e vamos propor um workshop para todos os profissionais da assistência materno infantil sobre adoecimento psíquico, manejo e encaminhamentos.


Qual o significado da expressão ‘saúde mental materna’?

 

Refere-se ao estado psicológico e emocional das mulheres, abrangendo aspectos como bem-estar mental, equilíbrio emocional e a capacidade de lidar com os desafios associados à maternidade. Isso inclui a gestação, o parto, o pós-parto e o cuidado com os filhos. As questões relacionadas à saúde mental materna não estão ligadas somente a quadros de depressão e pós-parto. Os quadros de problemas relacionados à saúde mental perinatal estão ligados tanto no processo da gestação quanto no nascimento do bebê, sem desconsiderar intercorrências, como perdas neonatais, independente do período gestacional. Podemos observar nesse período quadros relacionados à depressão, ansiedade, transtorno estresse pós-traumático, psicose puerperal, transtorno de pânico e fobias. 

 

Quais os reflexos sociais deste diagnóstico?

 

O período da maternidade é muito romantizado pela sociedade, que determina um jeito ‘certo e errado’ de sentir, ser e estar quando uma mulher se encontra grávida ou já com o bebê nascido. Isso reforça o silenciamento das emoções, levando a mulher a não ser devidamente ouvida e encaminhada para o acompanhamento necessário da sua saúde emocional. Cada mulher traz sua forma de vivenciar esse momento, pois isso está ligado diretamente à sua história de vida, seu contexto atual, e uma vivencia muito individual. Tristeza, choro fácil, retraimento e dificuldade de se relacionar com as pessoas e até com o bebê, são sinais de alerta, porém, nem todo choro, cansaço, irritação relaciona-se a quadro depressivo, também representam sobrecarga e esgotamento. Por isso, é tão importante acolhimento e escuta empática da rede de apoio familiar, social e profissional, para um devido encaminhamento, avaliação e direcionamento. Existem várias escalas de rastreio — indicadas já na gestação e até um ano após o parto —, que podem ser utilizadas pelos profissionais, infelizmente, no Brasil, ainda não há um protocolo como em outros países e esta é uma pauta da campanha. Há lei recente para pré-natal psicológico de gestantes e puérperas e precisamos cobrar sua implementação. 

 

Qual o amparo legal relacionado ao cuidado da saúde mental materna e à economia do cuidado?

 

Existem discussões com ministérios, em torno de PL´s, para tirar a invisibilidade. Pensando em direito, temos o princípio de parentalidade que traz esse conceito de equidade nas responsabilidades sobre os cuidados de uma criança, mas ainda não temos políticas públicas efetivas em torno da causa e este é um dos motivos da economia do cuidado entrar para as diretrizes da campanha MFC. Economia do cuidado refere-se a toda e qualquer ação relacionada ao cuidado e manutenção da vida, que é invisível para nós, como por exemplo dar banho, fazer comida, cuidar da casa, cuidar da roupa, dar remédio, acompanhar recuperação de um quadro de saúde, etc. São atividades normalmente designadas como de responsabilidade da mulher relacionadas a desigualdade de renda, de gênero e potencializadoras de sobrecarga, estresse, estafa, depressão, ansiedade, etc. Impacta em tantas esferas da sociedade, que passou a fazer parte da agenda política da ONU, sendo abraçada em várias ODS

 

Qual o melhor caminho para a conciliar toda essa problemática?

 

Nos conscientizar que o cuidado não está ligado a gênero e sim a uma necessidade humana básica, que todos como sociedade tem responsabilidade de executar. É desafiador, mas possível, uma transformação que se inicia, por exemplo, quando uma empresa cria a cultura da licença parental e não materna ou paterna. 

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